Em uma iniciativa inédita, a presidência brasileira da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) mapeou 722 iniciativas aprovadas desde a COP21, em Paris, há dez anos, e descobriu que 299 delas foram extintas ou descontinuadas. Outras 423 permanecem ativas e responderam ao chamado do Brasil para contribuir na formatação da nova Agenda de Ação, voltada à mobilização de projetos climáticos voluntários da sociedade civil, empresas, investidores e governos locais.
“A gente sempre soube que muitas dessas iniciativas não estavam mais ativas, mas acho que agora estamos tentando tangibilizar isso, trazer transparência”, explicou Bruna Cerqueira, coordenadora-geral da Agenda de Ação da Presidência da COP30.
O balanço foi apresentado nesta terça-feira (14), em Brasília, durante as reuniões da Pré-COP, evento preparatório para a conferência que ocorrerá em menos de um mês, em Belém (PA).
A Pré-COP não prevê anúncios formais ou novas metas, mas antecipa debates e alinhamentos para as negociações oficiais da COP da Amazônia.
Com o objetivo de acelerar a implementação das ações climáticas e do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C, o governo brasileiro formou grupos de trabalho com representantes de projetos anteriores, reunidos agora em torno dos 30 objetivos-chave da nova Agenda de Ação, lançada em junho.
Tradicionalmente, as agendas de ação das COPs não se relacionam diretamente aos textos negociados entre os países, mas a presidência brasileira mudou essa lógica, criando uma estrutura que traduz as metas do Balanço Global em eixos de execução.
O Balanço Global é a ferramenta que, a cada cinco anos, avalia o progresso mundial na implementação do Acordo de Paris e orienta novos planos de ação climática.
De acordo com a coordenação, o reporte de resultados dessas iniciativas é feito na plataforma Nazca, criada na COP14, no Peru, para integrar atores não governamentais às discussões climáticas. No entanto, poucos relatórios vinham sendo enviados até a retomada da mobilização promovida pelo Brasil neste ano.
“O ciclo de reporte acabou de terminar e a gente conseguiu um aumento de quatro vezes no número de iniciativas que responderam para a plataforma. E pedimos que, além das informações qualitativas, começassem a reportar indicadores, que vamos publicar antes da COP”, detalhou Bruna Cerqueira.
Ela acrescentou que 137 iniciativas já apresentaram balanços atualizados e que o governo pretende montar um “celeiro de soluções” com base nas experiências bem-sucedidas.
“A gente não está construindo nada novo, mas pediu que as iniciativas nos dessem os cases delas, em diferentes geografias, [sobre] as soluções que estão funcionando.”, completou.
Para o empresário Dan Ioschpe, nomeado Campeão de Alto Nível da COP30, o modelo da nova Agenda de Ação permitirá maior alinhamento entre o setor empresarial e as metas globais.
“Nós estamos buscando chegar na ponta. Por exemplo, no combustível sustentável da aviação — como fazer isso acontecer com rapidez e escala, juntando suprimento, demanda e financiamento. Usando o ciclo anual da COP, podemos influenciar”, argumentou.
O papel dos Campeões Climáticos de Alto Nível foi criado na COP21 e cada presidência designa um representante para mobilizar ações voluntárias entre atores não governamentais — fundamentais para transformar compromissos em práticas efetivas.